“Cheguei aqui e uau, não havia nada”. António Dias, motard, natural de Ribeira de Pena, ia começar a viagem pela Nacional 2 no quilómetro zero, quando se apercebeu que naquele local simbólico só havia a rotunda e o marco que assinalava o início (ou fim) da estrada, e umas lojas vazias. Há-de ter ido a remoer aquilo, Portugal abaixo. Estava em 2016. Três anos depois, mudou de vida, mudou-se para Chaves e abriu o café-bar KilometroZero. Tornou-se um marco da viagem.
O espaço – um misto de café da Route 66 e de Ace Café de Londres, na ideia do proprietário – , vai-se enchendo de memórias. Tem já um estendal de t-shirts de motoclubes diversos, notas, recadinhos em ardósias pretas, memorabilia variada porque, afinal, são 738,5 quilómetros de histórias de camaradagem, descobertas e até solidão. “Há sempre uma euforia, ou quando acaba ou quando começa”, diz António. Encosta-se a um dos bancos altos da esplanada com vista para a rotunda, com uma imperial a refrescar-lhe a mão, e os Dire Straits a tocar Sultans of Swing na coluna. Tem 47 anos e a moto estacionada dentro do café. Agora viaja menos, mas vai acompanhando os sonhos dos outros.
“A estrada nunca foi esquecida pelos motards e pelo [Portugal de] Lés a Lés, mas hoje já é um destino mais familiar”. É quarta-feira, e está um dia calmo. No fim de semana houve fila para fazer a fotografia da praxe na rotunda. Mostra o telemóvel, com as fotos da multidão. Mal se vê a rodela no meio da estrada e o marco muito menos. Nos meses de verão há quem espere horas, conta.
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Fonte: Expresso